quarta-feira, 30 de maio de 2012

Antes do futuro da Campinas metropolitana

José Nunes Filho* & Josmar Cappa**

A Replan investirá US$ 1,29 bilhão na construção de duas unidades de hidrotratamento de diesel e querosene de aviação. Entre 2013 e 2017, a produção atual de 80 milhões de litros de querosene passará para 180 milhões, especialmente para atender a demanda de Viracopos - VCP.

Em 2007, a demanda por passageiros em VCP era de 117,4 mil. Com as operações da Azul, desde 2008, chegou a 7,5 milhões de passageiros em 2011 e 99,9 mil aeronaves. Quanto à movimentação de mercadorias, VCP ocupava a 6ª posição nacional em importações (US$ 2,6 bilhões) e a 15ª posição em exportações (US$ 560 milhões). Em 2010, passou para a 2ª posição nacional em importações (US$ 13,5 bilhões), e a 14ª posição em exportações (US$ 3,3 bilhões). Em igual período, o Aeroporto de Guarulhos passou da 3ª para a 4ª posição nas importações, e da 7ª para a 9ª posição nas exportações. O Plano Diretor de VCP prevê o transporte de 10,4 milhões de passageiros em 2015 e 113,2 mil aeronaves por ano, podendo chegar a 60 milhões de passageiros e 2 milhões de toneladas de mercadorias a partir de 2025.

A Replan demonstra visão estratégica e sinergia com VCP. Há outros investimentos: 40 aeronaves da Azul; simulador de aviões da TRIP; dois Datas Center’s do Santander; Centro de Operações do Itaú-Unibanco; ZTE com R$ 340 milhões em telecomunicações; Hyundai com R$ 1 bilhão para centro automobilístico; nova unidade da Horiba com R$ 15 milhões; Foxconn com R$ 12 bilhões para nova unidade; distritos industriais em Monte Mor, Vinhedo, Engenheiro Coelho, Nova Odessa e Jaguariúna; terminal intermodal em Indaiatuba; centro logístico de armazenagem em Valinhos; condomínio industrial e pólo de empresas aeronáuticas em Americana.

O desempenho de VCP está relacionado à dinâmica da economia contemporânea organizada em redes de inovação, produção e comercialização no mercado mundial. As grandes empresas intensificaram os fluxos de mercadorias e necessitam de transporte multimodal. Preferem regiões metropolitanas, devido à maior oferta de bens e serviços como mão de obra qualificada, centros de pesquisa e de ensino e as infraestruturas (transporte, energia, telecomunicações e saneamento). Interagem com o Poder Público para eliminar obstáculos nas cadeias produtivas e utilizar infraestruturas de apoio às atividades econômicas.

A agenda de ampliação de VCP está mantida, sobretudo agora com a concessão para o Consórcio Aeroportos Brasil. É preciso integrar VCP à dinâmica urbana da Região de Campinas para evitar deseconomias de aglomeração, obstáculos à mobilidade urbana, perdas de investimentos, emprego, renda, tributos e da qualidade de vida.

Primeiro, é necessário que o Poder Público Municipal introduza uma política de gestão aeroportuária. O intuito é de acompanhar e interagir no processo de ampliação de VCP. As questões aeroportuárias precisam ser contempladas, de forma consistente, no Plano Local da Macrozona 7, considerando-se a dinâmica da economia contemporânea e o respeito ao Estatuto da Cidade.

Segundo, Campinas precisa rever sua legislação urbanística para valorizar seus diferenciais de competitividade regional (localização geográfica estratégica, logística industrial, transporte multimodal, potencial de inovação, conhecimento tecnológico e de serviços), como forma de instituir políticas públicas que qualifiquem seus recursos (humanos, tecnológicos e infraestruturas). Cria melhor oportunidade para endogeneizar processos produtivos e ampliar a geração de valores e técnicas nas cadeias produtivas, com efeitos multiplicadores no emprego, na renda e nos tributos. Supera políticas da metrópole corporativa baseadas em projetos de infraestruturas para atrair empresas. Houve baixa capacidade local de integrar a produção das grandes empresas, que estavam mais inseridas no mercado mundial do que nos mercados locais.

Terceiro, é necessário um Plano de Desenvolvimento Metropolitano para dar eficácia à gestão de políticas públicas regionais e não comprometer projetos estratégicos de desenvolvimento regional. Amplia-se os efeitos multiplicadores do emprego, da renda e dos tributos e gera-se sinergia entre projetos estratégicos e demandas derivadas sem obstáculos ao desenvolvimento local e regional e à qualidade de vida. Temos duas opções: construir a metrópole do futuro ou o futuro da metrópole.
*Diretor Titular CIESP Campinas
**Doutor em Economia, Professor na PUC Campinas. Diretor do COINFRA- CIESP Campinas.